quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O melhor do carnaval, prévias! Viva o carnaval 2016




Turma da Jaqueira

Com a netinha Lis

Concentração para o Pisando na Jaca com amigos na feijoada de Monica


Escuta Levino e os Guerreiros do Passo

 
Paeaquedista Real


Tá  Maluco




Ensaio do Bloco da Saudade




Bloco da Saudade

Eu Acho E POUCO

Vai e Vem do Bomfim


E


Fundadores do Bloco UE ACHO E POUCO

Bloco da Saudade
Vai e Vem do Bomfim
folia em Família

Famila Getúlio Cavalcanti e Família Clóvis Cavalcanti




Acerto de marcha do bloco Cordas e Retalhos, Recife Antigo

Arrumando a casa

Organizando como fansatias

Fazendo uma tintura de jenipapo, parágrafo o índio 

artigo públicado no Diario de Pernambuco

Artigo meu, publicado hoje, 13.1.16, no Diario de Pernambuco (abaixo). Eu escrevi nesse jornal desde 1998, regularmente. Em junho de 2014, um artigo meu foi censurado. Decidi não mais escrever para ele. Agora, com novos proprietários -- os irmãos Alexandre e Maurício Rands, empresários competentes --, volto a escrever.

Veja nas próximas semanas novos artigos da janela ARTIGOS

Ameaças à excepcionalidade de Olinda
Clóvis Cavalcanti

Presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco)
“Para quem visita Olinda e não se perde em detalhes, a cidade aparece na observação a partir de um alto como o da Sé, através da forma harmoniosa das casas, da silhueta altiva das igrejas, das copas ondulantes dos coqueiros, mangueiras, cajueiros, abacateiros, do brilhante azul do mar tropical. A visão justifica a origem lendária do nome: ‘Ó linda situação para se fundar uma vila!’ Entretanto, um contato mais íntimo, demorado, com a realidade da antiga Marim dos Caetés ou Vila Mirim evidencia a condição de cidade ameaçada com que Olinda se apresenta hoje”. Essa narrativa é o começo de artigo meu publicado pelo extinto Jornal do Brasil – grande diário do Rio de Janeiro – no dia 2 de fevereiro de 1981. Cabe perfeitamente, porém, para retratar uma situação bem atual. Pior: Olinda só se integrou à lista do patrimônio cultural da Humanidade, por ato da Unesco – a agência da ONU encarregadas dos assuntos educacionais, científicos e culturais do mundo – em 17 de dezembro de 1982. Ou seja, tinha – e tem – a obrigação de não negar as características de “valor excepcional e universal” de um sítio que “requer proteção para benefício de toda a humanidade”, motivo de sua escolha para ser cidade-patrimônio (World Heritage), como diz o diploma da Unesco. “Monumentos abandonados, rachões que se multiplicam ... calçadas que se desfazem” eram situações que, entre outras, eu assinalava em meu artigo de 1981. Queria dar um grito de olindense para chamar a atenção quanto ao descaso, ao abandono, à forma perigosa com que se estava tratando lugar tão excepcional e único, característica perfeitamente percebida pela Unesco.
Assim, além de bradar contra a irresponsabilidade relativa aos cuidados com minha linda Olinda, eu acrescentava: “a despeito disso tudo, a primeira capital de Pernambuco continua exercendo um fascínio sobre seus moradores, sobre os visitantes que a ela acorrem, sobre os apreciadores da documentação viva de nossa história, que é o mesmo que maravilhava Joaquim Nabuco, que fez Darwin preferir Olinda ao Recife. Essa atração não se apaga facilmente; afinal, ela é produto da luz, do brilho, da luminosidade que conferem aos verdes tropicais olindenses ... uma cor doce e ao ar cálido, uma leveza ... responsáveis por agradáveis sensações táteis”. Adicionava a singularidade das manifestações culturais de Olinda, a exemplo do carnaval, “o gostoso carnaval de rua, livre, descontraído, sem exageros”, democrático, aberto, barato, de acesso fácil para quem tem baixa renda. Minha preocupação, então e agora, era, e é, de que se esteja fazendo tudo para insidiosamente acabar com os atrativos olindenses. Um périplo pela cidade, a partir de minha casa na privilegiada localização junto do convento franciscano mais antigo do Brasil – com belas vistas para todos os lados, a da direção sul infelizmente aviltada, se bem que ao longe, pelas miseráveis torres do Cais de Santa Rita –, permite verificar como a cidade vai se desfazendo. O adro do convento meu vizinho foi completamente desfigurado por uma obra de dez anos atrás, inconclusa e que se destinava, supostamente, a “revitalização” do local. Ficou dela um canteiro de obras, um desnível absurdo entre a via pública da frente do convento e a pracinha com o cruzeiro abaixo, desnível protegido por gradil mambembe de metal, verdadeira gambiarra. Sobressai a pouca, rala inteligência de quem iniciou a obra e a abandonou posteriormente.
Entristece ver a situação a que chegaram os templos do Bonfim e São Pedro Mártir, ameaçados de ruir. Fiações caóticas, com postes que parecem de galpões de depósito de periferia urbana constituem a rede de distribuição de energia da cidade. Como é possível que isso ainda exista quando, há mais de dez anos, se iniciou um processo de embelezamento de postes e ocultação de fios que ficou limitado, no entanto, a 3 ou 4 vias públicas? Na área do Fortim do Queijo, implantou-se um calçadão há menos de 8 anos, com lajes de pedra muito frágeis que se desmancham e pedem reposição a ritmo escandalosamente curto. Sujeira, mau cheiro, pichações – não há limite para a criatividade do que é negativo em Olinda. A isso se soma o barulho de bares e shows ao ar livre, com música lixo (que ninguém, nem mesmo seus autores, poria no quarto de um recém-nascido ou de um doente da família). Dentro de minha casa, sou obrigado a ouvir escolhas musicais que jamais faria (sinto-me muito bem, todavia, quando ouço os cânticos gregorianos no Mosteiro de São Bento de Olinda). E olhe que nem moro ao lado de quem produz a miséria auditiva de música bate-estaca, o que me faz imaginar o suplício de quem está junto dessa fonte.
Recentemente, se inventou a porcaria das casas-camarote – guetos para ricos e apaniguados – no carnaval de Olinda. Dentro desses espaços de folia pasteurizada, alguns dos quais chegaram a funcionar até 2013, faziam-se shows para os que deles se serviam pagando fortunas ou, de graça, fazendo parte de panelinhas de privilegiados, que ofendiam o carnaval de rua e agrediam os moradores próximos. Graças a Deus, a prefeitura não aprovou essas casas-camarote em 2014 e 2015. Isso, depois que a população que sabe o que é o carnaval de Olinda se mobilizou, fez protestos e impôs o perfil tradicional da cultura olindense. Aliás, foi uma inciativa dos moradores do Sítio Histórico, em 1980, que tirou o trânsito de veículos das ruas do carnaval olindense. Naquele ano, a prefeitura não assumiu oficialmente o fechamento da cidade, mas concedeu permissão para que os moradores o fizessem. Funcionou tão bem que, em 1981, e daí em diante até hoje, a prefeitura proíbe a circulação de carros nas ruas reservadas para a folia. Melhorou muito a animação e curtição do carnaval depois disso. Contudo, é assustadora a quantidade de veículos de não-olindenses que consegue entrar nas ruas fechadas do Sítio Histórico de Olinda e nelas estacionar durante o carnaval. Minha rua, por exemplo, à noite, normalmente, só registra a presença de 4 ou 5 carros estacionados – dois deles o de Vera, minha mulher, e o meu. Nas horas diurnas do carnaval, porém, estacionam até 50 carros. Um absurdo, pois é invasão de veículos sem nada a ver com a vida quotidiana da cidade. Não é possível que a excepcionalidade de valor cultural e universal de Olinda seja jogada no lixo e se termine levando a Unesco a retirar o título que conferiu à cidade, com toda justiça, em 1982.


Jornal do Brasil, 7.9.1981

Jornal do Brasil, 2.2..1981

Titulo dado a cidade de  Olinda