domingo, 27 de dezembro de 2009

Artigo publicado DP, 27 dez. 2009

COPENHAGUE, MAU USO DO DINHEIRO PÚBLICO

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Não se podia esperar muita coisa da conferência do clima de Copenhague (a COP-15 da ONU), encerrada dia 18 deste mês. Um encontro de tal magnitude não permite desfechos milagrosos. Discutir questões técnicas e suas implicações políticas envolve toda uma diplomacia. Chegar a acordos depois disso é trabalho árduo, ainda mais quando se tem que exprimir cada item numa multidão de idiomas. Uma palavra mal interpretada exige tempo enorme de negociações e explicações. Já participei de eventos da ONU, inclusive da parte científica da Rio-92 (a convite do CNPq). Não é fácil dialogar em ocasiões assim, apesar do interesse das pessoas e da importância dos assuntos em debate. No caso das grandes conferências internacionais, há participação significativa de burocratas e pessoas que vão ali apenas passear. Como, de fato, explicar que o Brasil tenha tido em Copenhague uma delegação de 700 membros? Não é sem razão que se passou a denominar a capital dinamarquesa de Shoppenhague. Por outro lado, quem pagou a despesa de tanta gente inútil para as discussões sobre o que interessava no caso, um acordo para conter a ameaçadora progressão da mudança climática do planeta? Admitindo a modesta quantia de 15 mil reais para a viagem de cada um desses nossos “representantes”, chega-se ao total de 10,5 milhões de reais de custo para a revoada (o dinheiro foi público). Sobre isso, deve-se adicionar a chamada pegada ecológica (custo ambiental) correspondente, esta última uma das causadoras do efeito estufa que a COP-15 visava conter.

Deve-se registrar que o Brasil foi um protagonista destacado no evento. O presidente Lula da Silva resolveu arregaçar as mangas e mostrar que o país estava disposto a enfrentar a questão do temível aquecimento global. Demorou, porém, a perceber isso. E colocou à frente da delegação brasileira uma inimiga nada sutil do meio ambiente, a ministra Dilma Rousseff, “recém-chegada à questão climática”, com o disse Miriam Leitão aqui no Diario. Segundo Miriam, que assistiu à COP-15, a ministra Dilma “imprimiu à atuação brasileira um amadorismo insensato. Além disso, neutralizou alguns dos nossos mais bem treinados negociadores”. E ainda cometeu ato falho, registrado no noticiário da Rede Globo, afirmando: “O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Inacreditável? Não. Essa foi sempre sua postura – inclusive tendo levado adiante iniciativas que a então ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, não aprovava. O presidente Lula sempre comungou da mesma perspectiva, haja vista sua declaração em Mato Grosso, dia 21.11.07, na inauguração de uma usina de biodiesel, quando afirmou de cátedra que o meio ambiente é um “entrave” ao desenvolvimento. Será que ele adota agora uma visão radicalmente distinta, como a do sócio-ambientalismo?

A ida de uma multidão de gente absolutamente supérflua na comitiva brasileira para a COP-15 mostra como estamos distantes de um compromisso sério com o uso prudente, moderado, parcimonioso dos recursos da natureza (e das verbas do Tesouro). Se, pelo menos, esses contemplados com o passeio à Dinamarca se inspirassem nas soluções inteligentes e sustentáveis do modelo dinamarquês de vida, seria pelo menos alguma coisa. Mas não ouvi de ninguém que esteve lá sob as bênçãos do Erário comentários sobre a vida frugal, o transporte público de qualidade, as ciclovias de Copenhague. Ouvi, sim, do presidente do Partido Verde em Pernambuco, Sérgio Xavier (que foi à COP-15). Ele, no Blog de Jamildo de 19 do corrente tratou exatamente disso, sugerindo a implantação de uma grande malha de ciclovias no Recife (integrada com o transporte público). “Copenhague é do tamanho do Recife e é exemplar nisso”. Afinal, palavras sensatas de alguém que tem compromissos ecológicos genuínos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Mensagem Natalina

Encontros


A idéia era essa, viver a vida. Compartilhar, desfrutar do nosso paraíso
da Fazenda do Tao.


... foi um dia encantador...
... boa conversa, sonhos, bate-papo descontraído, risos, reciprocidade
fundada em laços fraternos, simples e significativa comunhão...
... comidas... quitudes... bebidas... celebração... encontros...
... mata... chuva (que forte e bela chuva a de ontem!)... belo sítio...
inestimável acolhida... bela casa... ambiente de grande luz!!!
Obrigado, amigos e amigas da CGEA, pelo dia de ontem. Eu o guardarei para sempre em meu coração.
Muito fraternalmente,
Cristiano Ramalho


Confraternização natalina do CGEA (Coordenadoria Geral de Estudos Ambientais) dos pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco na Fazenda do Tao

Saúde

Bom Apetite!

Viva!

Meditação e reunião na mata

Olha a chuva!

Clara e Vera desenhando na mensagem de Natal de Clóvis

Abraço de irmãos

domingo, 13 de dezembro de 2009

Artigo publicado, DP, 13.12.2009

OLINDA MALAS-ARTES EM TODA PARTE

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Programa de ótimo nível que torna Olinda mais civilizada – como diz minha amiga Vera Milet, moradora do Alto da Sé – é o “Olinda, Arte em Toda Parte”. Ele acontece nesta época do ano, mostrando o que a cidade tem de atraente (muita coisa) no campo artístico. Andar pelas ruas do sítio histórico torna-se então um prazer renovado. Não neste ano. O programa de 2009 se encerra hoje e, pode-se dizer, foi um fracasso rotundo. Começou com uma cerimônia de abertura sem graça, na qual o prefeito (Renildo Calheiros, que não incorpora a cultura olindense a seu estilo de vida) chegou, fez um discurso burocrático e foi embora – nada parecido com a tradição dos anos de Luciana Santos e animadas festas. A cidade, que está cheia de obras intermináveis, ficou um tumulto de carros ainda maior, impedindo, por exemplo, que a tradicional serenata pelas ruas nas sextas-feiras seguisse sua rotina de praxe. Para tentar organizar o espaço, houve mudanças no trânsito que complicaram a vida de todos. A rua de São Francisco, onde moro e que tem fluxo mínimo de carros, foi convertida em mão única, atrapalhando a vida de inúmeras pessoas. Para eu chegar agora a minha casa é preciso fazer 3km desde a praça do Carmo; antes eram 300 metros! No dia 8 de dezembro, uma pessoa levou 30 minutos procurando percorrer o novo caminho; outra, 15 minutos. Na verdade, é incrível a falta de bom senso com que a mudança foi adotada. Os moradores da são Francisco só têm que subir 400 metros de rua, no máximo, mas isso não lhes é permitido – apesar de a rua estar quase sempre vazia.

Falta de bom senso é hoje um predicado da gestão pública de Olinda. Vejam o que se fez no Memorial Arcoverde, porta de entrada da cidade. Para permitir o espetáculo do Cirque du Soleil, que durou 25 dias, destruíram toda uma área de parque, que foi pavimentada sobre pesados paralelepípedos colados com cimento. O circo foi embora, dizem que pagou uma indenização de 1,4 milhão de reais pela destruição que provocou e o espaço por ele ocupado é hoje, sem nenhum exagero, um deserto. Ultimamente, tem sido usado para estacionamento de ônibus que vão para o Centro de Convenções. Existe prova mais eloqüente de falta de qualquer senso na promoção do bem-estar humano na cidade de Olinda? O prefeito, seus secretários, assessores, etc – tal como o governador do Estado, seus secretários, sua corte de ajudantes –, ninguém, até hoje demonstrou qualquer incômodo com o absurdo do Cirque du Soleil. Pior: várias dessas eminências e boa parte das elites locais ali desfrutaram de um par de horas de animado divertimento. Divertimento cujos benefícios foram todos privados e cujos custos recaem sobre toda a sociedade.

Em plena hora do Arte em Toda Parte, Olinda é presenteada com um presépio descomunal na colina do Carmo no qual se juntam figuras grotescas e fantasmagóricas incompatíveis com o nível da arte que renomados artistas olindenses praticam. Trata-se de um projeto que não passou por discussão pública entre aqueles que estão ligados às tradições da cidade. Simplesmente, montaram um cenário que agride a quinhentista igreja do primeiro convento carmelita das Américas. Presépio é sempre uma coisa delicada. Mesmo nas cidadezinhas e lugarejos do interior, com recursos limitados, as pessoas os fazem com sabor e graça. Olinda realmente não merece o monstrengo que se instalou na entrada do sítio histórico. Para agravar o quadro, uma árvore de natal de plástico “reciclado” de garrafas pet verdes foi armada na praça do Carmo. Outra clara demonstração de falta de senso (talvez justificada apenas pela suposição de que aquilo é ecologicamente correto). Sem dúvida: Olinda malas-artes em toda parte.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Feliz aniversário!


Também fazemos parte da história de Clóvis. Compartilhar as aventuras, as trajetórias e rompantes deste homem não é para qualquer um... Um pouco da sua história fotográfica revela o amor pela família. Parabéns a todos nós.
Feliz aniversário Clóvis com toda a sua prole.
Salve, dia 8 de dezembro de 2009
Dia de Nossa Senhora da Conceição
Dia do nascimento de Clóvis

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

domingo, 29 de novembro de 2009

Artigo publicado DP, 29.11.2009

OLINDA MALTRATADA

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Quem anda pelas ruas do sítio histórico de Olinda, não pode deixar de pensar no agudo senso estético dos que nos legaram lugar tão especial. Não há outra explicação para que Olinda continue charmosa como é em meio a ações maltratam seu patrimônio. A situação tem se agravado nos últimos tempos com obras caóticas, como as que dão ao Alto da Sé um cenário de cidade da Chechênia. Não se sabe o que ficará ali; os serviços de “revitalização” do logradouro deveriam ter terminado em junho, mas se arrastam sem perspectiva de conclusão; a impressão é de que o centro da beleza de Olinda vai se transformar num shopping, Santo Deus! Quem mora na região não suporta mais o suplício da intervenção pública que lá se desenrola. Prova disso são abaixo-assinados que praticamente todos os moradores do local subscrevem pedindo providências corretoras à Prefeitura. Convencionou-se que ali é um espaço para gente jovem se juntar, beber e fazer barulho. Evidentemente, não é assim que se vai tirar proveito dos atrativos que Olinda oferece para o turismo de alta qualidade – como o que se vê em cidades classificadas pela Unesco como “Patrimônio da Humanidade” (Ouro Preto; Gratz, na Áustria; Bruges, na Bélgica; etc.).

Olinda possui a vantagem de abrigar o jardim botânico mais antigo do Brasil, criado em 19.11.1798 (há 211 anos!). E que se apresenta como a maior área arborizada em sítios históricos da América Latina. É o Horto d’El Rey, de 9 hectares, junto do Alto da Sé, reunindo enorme diversidade botânica, com plantas do “mundo que o português criou” aqui aclimadas, como observou Gilberto Freyre em artigo de 1924 para o Diario. Vale notar o comentário de Freyre de que as plantas exóticas introduzidas ali acrescentaram à economia do país “novos encantos de cor, de forma, de perfume, de gosto” – casos da canela, do cravo, da fruta-pão, da manga, “hoje tão pernambucanas quanto brasileiras”. Novos encantos também se acrescentaram, estes no plano da paisagem, com a arquitetura de igrejas, monumentos e casario da Cidade Alta compondo desenho harmonioso. São coisas de excepcional valor como essas que levaram a Unesco a incluir Olinda na sua lista de “World Heritage”. Infelizmente, os poderes públicos não se empenham em elevar o caráter excepcional de Olinda. Ao contrário, fazem intervenções medíocres, vulgares – como a modificação imperdoável do adro do convento franciscano mais antigo do Brasil, vizinho meu de rua. Enquanto isso, o Horto, propriedade privada da família Manguinhos, se conserva exemplarmente.

Assusta, por outro lado, como o partido que administra Olinda desde 2001 e que se denomina “Comunista do Brasil”, tenha abdicado completamente dos princípios socialistas e aderido ao mais crasso capitalismo mercantil. Talvez pensando que, dessa forma, mobilize recursos para a cidade – suposição benigna que faço –, a prefeitura do PCdoB está deixando Olinda entregue à sanha dos que querem ganhar dinheiro fácil ali. Começou com o nauseabundo projeto de um teleférico por cima do Horto d’El Rey e a construção de lojinhas no Alto da Sé, projeto esse a que se opuseram os verdadeiros olindenses, para quem o que se deve fazer é transformar a Sé e o Horto em locais de apreciação do patrimônio cultural e natural da cidade. Os proprietários do Horto não são contra sua desapropriação, mas desde que isso signifique um destino digno para o sítio. Hoje, como toda a cidade, ele é ameaçado pela invasão do crack e pelo desejo de ganhar dinheiro fácil de quem não tem compromissos com a singular Olinda.

domingo, 15 de novembro de 2009

Funciona mesmo! Aquecimento solar d´água na Fazenda do Tao


Uma parte da equipe multidisciplinar para execução do projeto - 15 nov. 2009

Instalação dos módulos com garrafas pet para circulação e aquecimento da água

Preparação do módulo

Improvisação de Lenildo, nosso caseiro, engenheiro nato - muito ensinou ao alunos de engenharia

Pinturas das garrafas

Participação de todos - Alunos de Ciências Ambientais, Engenharia Eletrica, Eletrônica e Mecânica

Início da execução - corte dos canos

Artigo publicado DP, dom. 15 ago. 2009

ENTRAM REFINARIA E ESTALEIROS; SAEM O CAJU E A MANGABA

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Até poucos anos, a chegada do mês de outubro anunciava um dado prazeroso do verão no litoral pernambucano: início da safra de caju. De repente, ruas, calçadas, beiras de estrada, mercados se enchiam de cestas (de folhas de coqueiro), balaios, rodas de cajus grandes, pequenos, tronchos, gordos, delgados, redondos, compridos, amarelos, rosas, vermelhos, cor-de-laranja. Uma variedade enorme – no estilo de ser da natureza (onde não há homogeneidade). Os cajus vinham dos quintais, das matas, de reservas naturais como as da região de Suape, Porto de Galinhas, Itamaracá. Fazia gosto ver a multiplicidade dessa fruta maravilhosa, de odor atraente e brilhante colorido, exibida nas ruas do Recife. Eu não resistia à visão do primeiro caju da safra em começo: comprava-o para comê-lo com uma lapada de cachaça antes do almoço (como via meus tios Ernande e Vivi fazerem, sob a reprovação de meu pai). Era um prêmio ao paladar, como sabem todos aqueles que conhecem essa combinação ímpar. Infelizmente, a beleza do caju nativo sumiu. Tem-se hoje, em seu lugar, um caju uniforme, padronizado, homogêneo, de linha de produção industrial, com frutos de mesmo tamanho e cor, arrumados não mais em cestas, balaios ou rodas, e sim em bacias de isopor: cajus clonados. Cajus que aparecem desde junho, sem brio, sem charme. As novas gerações ignoram a riqueza vegetal dos cajus pernambucanos verdadeiros, como também das doces mangabas cada vez mais raras.

E isso porque a destruição ambiental no litoral pernambucano é um dos exemplos mais lamentáveis da irresponsabilidade ecológica das políticas para promoção do que, afrontando o léxico, se chama de “desenvolvimento”. A decisão de construir o complexo de Suape, por exemplo, embutia uma lógica destruidora. Na época em que o projeto foi lançado, era total o desrespeito das iniciativas governamentais ao meio ambiente. Uma reação de ambientalistas pioneiros em 1975 chamou a atenção do público para o fato. Houve reações raivosas a esses opositores de Suape – entre os quais eu me incluía – e a propagação da idéia de que ser contra o complexo era um desserviço a Pernambuco (o mesmo dogma continua prevalecendo). Compreende-se a exploração do ufanismo infantil de quem vê na indústria, nos complexos portuários, na exploração do pré-sal, etc. a grande saída para os desafios do nosso desenvolvimento. Mas até que ponto isso faz sentido numa perspectiva de muito longo prazo – que é quando interessa discutir a sustentabilidade do progresso? A civilização do petróleo talvez esteja mais perto do fim do que estamos do surgimento do projeto de Suape. Em lugar dela teremos que caminhar para um paradigma com base na energia solar. Quando a era das tecnologias limpas tiver que prevalecer, os grandes projetos pernambucanos perderão validade – e teremos ficado também sem os cajus e as mangabas insubstituíveis. Um empobrecimento eterno.

No domingo passado (8.11.09), diante da explosão urbana de Casa Forte, o Diario trouxe reportagem sobre a perda de identidade desse bairro recifense (caderno Vida Urbana). Entre os assuntos abordados, a partir de uma pesquisa da Unicap, ressaltava-se que a maior parte do patrimônio verde de Casa Forte “está nos jardins e quintais de suas casas”. É o que se observa na Fundação Gilberto Freyre, nos Maristas de Apipucos, na Fundação Joaquim Nabuco (graças a isso, consigo ainda apanhar cajus para meu hábito de combiná-los com cachaça). O quintal da Casa de Saúde S. José, na av. 17 de Agosto, acaba de ser exterminado para dar lugar, sob a aprovação dos poderes competentes (sic) a um shopping. Mais uma contribuição para o desaparecimento de nossas frutas inigualáveis. Vitória – não definitiva, porém – da vida artificial sobre a perfeição da natureza.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Artigo publicado, DP, dom. 1 nov 2009

NA DIREÇÃO DA CIVILIZAÇÃO VERDE
Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social


Em outubro último participei de importante seminário promovido pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, na sede do BNDES, no Rio. O evento, em parceria com o CPDA (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e pesquisadores franceses, versou sobre “Segurança energética e segurança alimentar”, encerrando-se com marcante conferência do Prof. Ignacy Sachs (Sorbonne). Bem conhecido no Brasil, Sachs falou sobre “Rumo à civilização verde”, argumentando em torno do papel no mundo atual das energias de biomassa. Na sua visão, essas energias não darão contribuição de peso para a segurança energética. A razão é simples: a natureza impõe um limite ao que se quer fazer em termos de produção de agrocombustíveis e alimentos. Nem existe água nem terra em quantidades suficientes para que se produzam tantos combustíveis de biomassa quanto se queiram. Um dado é claro: no mundo, se o número de automóveis aumentou, o de famintos, também (um problema decorrente de falta de poder aquisitivo, não de falta de comida). Para as camadas afluentes, os combustíveis destinam-se a manter padrões de consumo cuja fisionomia de esbanjamento é a marca do modelo econômico que vigora. Ao mesmo tempo, a energia nuclear não seria uma solução de longo prazo.
Resta como alternativa a adoção de sistemas integrados de produção de alimentos e energia, nos quais os resíduos do cultivo dos primeiros sejam aproveitados para a segunda (produção de etanol ou biodiesel, por exemplo). A valorização dos subprodutos da agricultura (bagaço, palha, cascas, caroços, galhos) daria ensejo ao que Sachs chama de segunda geração de biocombustíveis (a primeira é a dos biocombustíveis hoje conhecidos). Ao mesmo tempo, encontra-se em gestação uma promissora terceira geração, com base nas microalgas e algas (de altíssimo teor energético e que se reproduzem com enorme rapidez). Porém, a grande mola da civilização verde terá que ser uma significativa mudança nos padrões de consumo que nos leve à economia de baixo carbono. Nessa perspectiva, o traço decisivo é o de um paradigma de “sobriedade energética” implicando mudanças nos padrões de transporte, habitação e urbanização. Não faz sentido, com efeito, que na economia de baixo carbono (como a que se pensa delinear em Copenhague, em dezembro próximo), continue prevalecendo a fisionomia atual, com o automóvel como meio de transporte da sociedade moderna (não em todo o mundo), em prejuízo de quem mora em periferias sem bons sistemas de transporte público.
A produção do agronegócio brasileiro, que se expande com enorme rapidez no Cerrado e bordas da Amazônia, justifica-se em grande parte pela economia dos biocombustíveis. Não pode estar aí, porém, o futuro do país, sobretudo quando se sabe da gravidade e das ameaças relativas à mudança climática. A crise mundial, ainda não superada – apesar da sensação de que o Brasil estaria passando ao largo dela –, deve ser uma oportunidade para se mudar de curso. Voltar a fazer a mesma coisa (mais do mesmo, como no caso dos Estados Unidos, salvando-se bancos e estimulando-se a economia), não dá. O Brasil, segundo Sachs, tem posição privilegiada no contexto mundial, graças a cinco atributos do país, por ele identificados: biodiversidade, floresta amazônica, diferentes biomas, suprimento favorável de água (à exceção do semi-árido) e comunidade científica preparada. Mas será que isso gera mais capital político do que fazer promessas mirabolantes com base no pré-sal? De qualquer modo, julga Sachs, o rumo da civilização verde significa trocar refinarias de petróleo por bioprodutos e captação de energia solar. Nisso, o Brasil tem excelente potencial.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Alunos de Engenharia no projeto para aquecimento solar d´àgua - out. 2009


Vistoria da Fazenda do Tao para Aquecimento solar de água - outubro 2009

Projeto saindo da prancheta para o real

Agora vai

Adaptação para a casa pequena do aquecedor para o chuveiro

V Conferência Latina Americana e Caribenha de Ciências Sociais - CLACSO


Música tradicional de Cochabamba

Clóvis e turma do Clacso

Abertura com Evo Morales

Participantes do CLASCO, Cochabamba, Bolívia, out. 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Artigo publicado - DP, dom, 18 out. 2009

COMPREENDENDO EVO MORALES

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Coisa difícil da vida moderna é aceitar o diferente. Nós brasileiros habitamos um mundo de cunho ocidental, cristão, antropocêntrico (ou que supervaloriza a espécie humana), machista, dominado pelo dinheiro, guiado pela famigerada Lei de Gerson. Pensamos que a humanidade inteira nutra os mesmos valores ou que deveria comportar-se assim. A cultura dominante na América Latina reflete isso também. Com percepção análoga, nos anos 90, os Estados Unidos dirigiram sua guerra contra o narcotráfico nas zonas de cultivo da folha de coca da Bolívia. O governo boliviano da época cooperou na erradicação dos cultivos, destruindo o sustento dos povos indígenas que sempre os praticaram. Como resposta à agressão sofrida (para os indígenas bolivianos, a coca não é usada como droga), os cultivadores da erva formaram poderoso sindicato. O líder que os conduziu foi um índio aymara, Evo Morales, homem decido, de idéias socialistas e que, em 2005, lançou histórica e bem-sucedida campanha presidencial. Evo Morales governa o país sem esconder ou modificar o que pensa, nem fazer alianças espúrias justificadas pela “governabilidade”. Na verdade, pensa de maneira muito distinta do paradigma economicista, produtivista, excludente do outro que nos caracteriza. Vi-o oferecendo de maneira muito nítida essa visão de mundo em reunião recente de que participei em Cochabamba (Bolívia), a V Conferência Latino-Americana e Caribenha de Ciências Sociais (a primeira conferência da série foi uma idéia minha aprovada pela Fundação Joaquim Nabuco, que a encampou e realizou em 1999 no Recife). O presidente da Bolívia fez o discurso de abertura do evento no dia 7 deste mês.

Com muita pertinência, Evo Morales referiu-se à “descoberta” da América como uma invasão – que, de fato, foi. Aprendemos na escola que o continente foi descoberto pelos ibéricos, mas essa é uma versão ridícula. Os ancestrais de Morales (que, apesar do nome, não tem nenhuma gota de sangue europeu) viviam aqui há uma dezena de milênios ou mais quando os espanhóis chegaram, empregando métodos pérfidos de conquista. É óbvio que os povos conquistados pensem muito diversamente dos europeus conquistadores e vejam o episódio da conquista com olhos de oprimidos. Outro ponto abordado por Morales foi o de que, quando menino, presenciou muitas situações de reivindicação de direitos dos nativos tratadas pelas elites opressoras como manifestações políticas inaceitáveis. Diziam as elites: “A política de vocês é a enxada e a foice”. E quando os campesinos insistiam em seus pleitos, eram reprimidos sob a acusação de “comunistas” e “socialistas” (nada diferente de situações vividas aqui entre nós). Como poderia alguém fiel a suas origens aceitar pechas que denegriam a história de povos dignos? Foi assim que os Estados Unidos terminaram prestando grande colaboração para o fortalecimento do nome de Evo Morales.

Querer diminuí-lo com a referência de “cocalero” que se faz a Morales, comumente, no Brasil e no mundo, é uma ofensa que, se revela ignorância de quem fala, indica também o grau de preconceito com que se vê o diferente. O termo cocalero caracterizava originalmente o cultivador de coca, mas se converteu em apodo depreciativo que sugere envolvimento com o tráfico de drogas. Os indígenas da região andina nada têm a ver com o vício de elites drogadas do Brasil, dos EUA, da Europa. Eles usam a coca para mascar e fazer chás, não como pó para cheirar. Na minha viagem recente à Bolívia tomei chá de coca, o qual, inclusive, ajuda a suportar as altitudes dos Andes (em Cochabamba, não é fácil respirar o ar mais rarefeito e seco dos 2.600 m de altitude do lugar). Evo Morales veio para ficar. Ele inclusive afirma ser mais importante defender a Terra (“la Madre Tierra”) que os direitos humanos. Essa fala não é antropocêntrica.

domingo, 4 de outubro de 2009

Artigo publicado - DP, dom, 4 out. 2009

A COPA DA EDUCAÇÃO

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Costumo receber mensagens de pessoas que têm a paciência de me ler aqui. Geralmente, respondo a cada uma através do correio eletrônico. Há poucos dias, porém, chegaram-me perspicazes reflexões de um leitor que foi meu aluno (ele não precisava), o biólogo, ambientalista e poeta de cordel Bartolomeu Leal de Sá, as quais merecem atenção especial. Referindo-se a matéria publicada pela revista Algomais, com o título “Cidade da Copa leva o Recife para o oeste”, ele salienta a convicção que paira de que a capital pernambucana, ao se oferecer para abrigar jogos da Copa do Mundo de 2014, só pode crescer se for para o interior. Nesse sentido, uma série de construções terá que ser feita entre os municípios de S. Lourenço da Mata, Recife e Jaboatão ao custo de R$ 1,6 bilhão. Não se cogita nunca de discutir que tamanho ou escala seria desejável para a cidade. É qualquer dimensão que cabe? Não se pode dizer que a população recifense atual, de 1,5 milhão de residentes, disponha de condições propícias para uma vida tranqüila. Pelo contrário, sofre-se com o congestionamento das vias públicas; o sistema de saneamento esgotou-se; não existe lugar para estacionar carros nem formas de transporte que não sejam o automóvel e o ônibus.

Neste ponto Bartolomeu adverte que não se pode dizer que a área atual que o Recife construído ocupa tenha esgotado seu território. Segundo ele bem lembra, o que está ocorrendo é que o Recife foge do Recife: “está abandonando um centro deteriorado, para ir deteriorar outras áreas. A cidade está fugindo de sua degradação, em vez de se recuperar. Digo isto em virtude da subutilização de áreas em vários bairros e ruas como Santo Amaro, rua da Aurora até a ponte do Limoeiro, rua Imperial, estrada dos Remédios, avenida Norte, avenida Sul, início da avenida Caxangá e muitas outras onde existem prédios, galpões abandonados, terrenos imensos. Não há mercado para investimentos em imóveis novos em áreas degradadas. Daí ser necessária a revitalização e urbanização delas. Assim como se defende uma reforma agrária, também é preciso uma reforma urbana”.

Onde agora há edifícios com 50, 80 ou mais apartamentos, isto é, ruas verticais, existiam ruas de casas térreas com desenho apropriado. Ao se dar tal substituição, os serviços urbanos deterioraram-se e a qualidade de vida sofre. Em lugar de recuperar lugares que se degradam, pensa-se em uma expansão custosa cujo mote é a Copa da Fifa de 2014. Neste âmbito, Bartolomeu relata: “Ano passado participei de uma oficina de educação, na cidade de São Lourenço da Mata, para professores do ensino médio. Foi numa escola estadual, de cujo nome não lembro. O estado dela era deplorável, embora a construção não fosse antiga. Só havia porta na sala em que trabalhamos. Mas ela não fechava, pois não se enquadrava na grade, não havia o trinco e era toda furada. A mesa do professor era de cimento, e nela estavam pintados palavrões de todo tipo. As torneiras dos banheiros não tinham fecho, de modo que era impossível abri-las. Os funcionários traziam água em baldes para lavar as mãos ou para descarga, se alguém ousasse usar os banheiros. O nível dos professores diante de tanta dificuldade não poderia ser outro”. Situação semelhante, em Camaragibe, no bairro de Vera Cruz, era a da escola Torquato de Castro, instalada em metade de um galpão de padaria. Na outra metade estão o forno e o depósito de lenha. “Cito esses dois exemplos da cidade degradada, abandonada, em fuga de si mesma e da caótica situação do ensino, para confrontar tais carências com os recursos que serão aplicados na Copa [...] Não seria melhor ganharmos em 2014 a Copa da Educação? Depois disto poderíamos ganhar e atrair muitas outras copas”.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Clóvis em aula prática com alunos de Ciências Ambientais UFPE set. 2009


Foto Oficial dos alunos na Fazenda do TAO

Caminhadas na mata com pintura de Acafrão

Banho de lama

Pausa

Reflorestamento em sítio vizinho

Músicas improvisadas e relaxamento na Pedra ao Por do Sol

Banho na Cachoeira do Alef

Visita ao sítio de Dona Severina

Início das caminhas pelo mato

Orientações iniciais

Artigo publicado - DP, 20 set. 2009

NOVIDADE ALVISSAREIRA NA POLÍTICA NACIONAL

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Quem assistiu à entrevista da senadora Marina Silva no programa de Jô Soares, da Rede Globo, há três semanas, pôde ter uma idéia da personalidade e experiência dessa notável mulher. Falando com naturalidade, segurança e visão profunda das coisas, em português correto, ficou patente que a senadora acreana possui qualificações para ser apresentada como candidata a presidente da República em 2010. Mais que tudo, diante do cansaço nacional com os rumos da política brasileira, o nome de Marina Silva, limpo e confiável, surge com força poderosa. Embora seja natural que se possa fazer alguma restrição à senadora, como no caso de sua concordância com a divisão do Ibama e da transposição do São Francisco, o fato é que ela passa imagem de pessoa confiável. Na entrevista que deu, foi clara, por exemplo, quanto às influências que recebeu em sua formação política: teologia da libertação, Chico Mendes, Clodovis Boff, PT, movimento dos seringueiros. Tendo sido alfabetizada aos 16 anos, conseguiu por seu esforço e capacidade, aos 19, entrar na universidade. Nesse período, trocou a vida fácil do convento em que estudava, com possibilidade de ficar três anos em formação no Rio de Janeiro, para sobreviver por si própria colaborando na luta dos seringueiros. Para tanto, foi empregada doméstica e contou com a compreensão de patrões altruístas. Doente de hepatite aos 13 anos, foi tratada com remédio para malária, tóxico, o qual agravou sua condição. Mais tarde, contraiu leishmaniose. Como o pai não podia comprar o melhor remédio de que precisava para combate ao mal, tomou um substituto mais barato, à base de antimônio. Dele resultaram seqüelas penosas de que sofre nos tempos atuais.

Mais interessante, porém, é a posição esclarecida, lúcida, articulada, da senadora com relação aos problemas que ela, de modo preciso, identifica como “sócio-ambientais”. Conhecendo de experiência própria o que isso significa, e havendo estudado as questões relevantes sobre o tema, Marina Silva possui uma prática política de defesa do meio ambiente. Sua vida inteira é uma luta pela causa que cada vez mais se mostra como o maior desafio da época atual. Infelizmente, no Brasil, os políticos de todos os matizes – do PT ao DEM, do PSDB ao PMDB –, com exceções raríssimas, defendem um pensamento único, “crescimentista”, que teve seu apogeu a partir dos anos 1950. Esse pensamento alimenta projetos como o chinês e foi a mola mestra da economia americana até a eleição de Obama. Continua sendo, porém, a ideologia brasileira por excelência, inclusive projetado de maneira irretorquível na prioridade máxima do governo Lula, o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Sobre isso, Marina propõe sujeitar desenvolvimento a meio ambiente e meio ambiente a desenvolvimento.

O que a senadora, que fez uma opção corajosa e conseqüente ao sair do PT para filiar-se à sigla nanica do Partido Verde (PV), tem em mente é algo totalmente necessário nos tempos atuais: uma mudança de paradigma para se considerar o sistema ecológico como restrição aos planos da economia. Ela fala disso, ao combater a prevalência da ordem econômica sobre as condições de bem-estar humano e uso sustentável da natureza A mesma prevalência vigorava no governo do presidente Fernando Henrique. Disso tem consciência o ex-ministro Gustavo Krause, do Meio Ambiente, que encontrei em Olinda, em dezembro de 2002, no dia em que o nome de Marina foi indicado pelo presidente-eleito (Lula) para o cargo que fora seu. Disse-me Gustavo: “Achei arretado”. E teceu elogios à senadora. De sã consciência, esse é o sentimento de quem vê na ex-ministra aquilo que ela significa – uma novidade alvissareira na política nacional.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CNF - Encontro ex-alunos nas montanhas de Friburgo




Desfile 7 de setembro de 2009

Aquecimento para o desfile

Clóvis, Afonso e Márcio

Diretoria

Acervo em exposição

Churrasco

Fachada do Colégio



Baile

Noite de Queijos e vinhos

Almoço em São Pedro da Serra

Encontro na casa de Chianca



Início das festividades com Lo Bianco