domingo, 28 de dezembro de 2008

Artigo publicado

Diario de Pernambuco, dom. 28.12.2008

AMEAÇAS E ESPERANÇAS QUANTO AO MEIO AMBIENTE

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

O ano de 2008 termina com muita desgraça ambiental no país. Não se trata de ficar apenas nos terríveis desastres de Santa Catarina, para os quais é possível encontrar soluções de engenharia. O problema de maior vulto diz respeito a coisas que estão acontecendo com efeitos muito mais duradouros, e mesmo eternos. Por exemplo, a área de floresta degradada por atividades humanas na Amazônia em 2008 foi 66% maior do que em 2007, segundo os cálculos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os números alertam quanto ao fato de que o desmatamento poderá ser muito maior em 2009, caso o governo não reforce as medidas de proteção da floresta. E o que significa derrubar o precioso patrimônio da selva amazônica? Simplesmente, em muitos casos, destruir para sempre uma riqueza que sequer conhecemos. Esse é o histórico da rica (e imensa) Mata Atlântica, que herdamos dos indígenas – os primitivos donos do Brasil, de quem usurpamos os bens –, da qual só restam 6-7% da área original. Com a derrubada da floresta foi-se embora, sem possibilidade de volta, todo um acervo de fauna e flora de valor incalculável.
No caso da Amazônia, depois que as árvores maiores e de madeira nobre são retiradas, a floresta é quase sempre queimada diversas vezes antes de ser derrubada por completo. O fogo serve para “limpar” o local, reduzindo a quantidade de vegetação que precisa ser retirada para abertura de pastos e lavouras. Foi mais ou menos assim na Mata Atlântica. O cerrado segue modelo destrutivo análogo, tal como acontece ainda nos ecossistemas de manguezais (para a instalação de fazendas de camarão) e na caatinga (caso da gipsita, em Araripina, para citar uma ilustração). Quem olha as enormes fotos dos jornais, de exaltação do Complexo de Suape, em Pernambuco – projeto que é apresentado erroneamente como “uma unanimidade” –, percebe a ferida aberta que é a implantação de atividades econômicas naquele sítio. Na verdade, todo o ecossistema dali foi destruído irreversivelmente. E o impacto devastador das obras do porto se estende ao mar das redondezas, em que a pesca quase sumiu. Claro, está havendo um surto econômico na área; mas quanto tempo durará isso? Daqui a cem anos, o que será de Suape? A situação não permite que se façam prognósticos alvissareiros.
A realidade do Brasil, de exclusividade do interesse econômico, levou o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, a declarar (sobre a Amazônia) no dia 18.12.2008: “Um ministério vai lá e abre uma estrada, outro vai lá e constrói uma hidrelétrica, outro expande a fronteira agrícola. Depois aumenta o desmatamento e sou eu que tenho que explicar”. Em suma, não há zelo ambiental no país. Todo mundo quer tirar seu pedaço da natureza, e esta que se vire. O paradigma pode sofrer mudanças – oxalá! – com a chegada de Barack Obama ao poder nos EUA. É que nosso modelo segue os parâmetros do padrão americano, cuja exacerbação foi a tônica dos penosos anos da era George W. Bush. Obama mostra novas preocupações, visíveis na indicação de seus auxiliares mais próximos, caso de seu conselheiro científico, o físico John P. Holdren, respeitado nome de Harvard que se dedica a questões de mudança climática e políticas públicas. Outros nomes do novo governo americano (na energia, agricultura, transportes, etc.) seguem o mesmo diapasão. Isso irá repercutir no mundo inteiro. Esperamos que uma onda verde ambientalista chegue ao Brasil. Aliás, foi esse o caráter da mudança na direção do Partido Verde em Pernambuco, com a escolha de sua nova Executiva estadual, tendo o grande militante da causa ecológica, Sérgio Xavier, à frente. Há esperanças no meio das desgraças. Feliz 2009!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Aniversário de Clóvis



8 de dezembro, dia de Nossa senhora da Conceição, Clóvis sai das ladeiras de Olinda correndo até o morro da Conceição no Recife, ora, agradeçe a vida e volta para festejar com familiares e amigos...


domingo, 23 de novembro de 2008

Mensagem de Natal


(clique na imagem para visualizar)
Diario de Pernambuco, 23.11.2008

GRANDEZAS E MISÉRIAS DA PAISAGEM RECIFENSE
Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

Uma forma de apreciar a paisagem do Recife e Olinda é vê-la de seus rios. Foi o que fiz recentemente, com minha mulher, Vera, em belo passeio no catamarã Maurício de Nassau, de Liliana Filizola. Era fim de tarde de um sábado. Pode-se verificar em ocasião como essa como a região do Recife possui um cenário formoso. Entretanto, não pode fugir à observação que ao sul da cidade vai se perfilando uma paisagem pesada, de concreto, com edifícios de tamanho descomunal, a exemplo dos do cais de Santa Rita. Bem junto dali, o casario baixo do bairro de São José, com telhados harmoniosos, e torres de igreja graciosas, exibe um contraste visual impossível de não se notar. Do mesmo modo, do meio do rio, vê-se, ao norte, a paisagem bela de Olinda (infelizmente, mais bela ao longe do que de perto). Nela sobressai o verde, juntamente com pontos claros de prédios coloniais, sem as angulosas construções medíocres dos novos espigões do sul do Recife, símbolos de uma cidade que se enfeia em pudor. Deve haver quem goste de uma paisagem assim. Será que essas mesmas pessoas ficariam enojadas ao contemplar os arredores fauvistas de Paris, o distrito art deco do sul de Miami, as maravilhas urbanas tradicionais da costa da Dalmácia, os espaços construídos da Sardenha (Alghero, por exemplo)? Se a autoridade municipal do lugar onde está o Taj Mahal fosse o prefeito do Recife, será que permitiria que construíssem ali edifícios horrorosos como as tais torres do bairro de São José?
É triste ver como, a cada dia, no afã de enriquecerem, construtoras e imobiliárias vão ocupando sem piedade alguma o espaço público da paisagem recifense, um bem de todos, destruindo aquilo que herdamos das gerações passadas. De vez em quando, vêm pela Internet mensagens com fotos de Boa Viagem ou do Recife de décadas passadas. São instantâneos de grandeza que aí se revelam. Diante deles fica mais nítida a miséria urbana que se ergue hoje. Na verdade, são duas formas de miséria. Uma, da população das palafitas (o bairro dos Coelhos sobressaindo nas margens do Capibaribe). A outra, da arquitetura nova que não tem respeito algum pela herança de beleza da cidade. Compreende-se até que empresas privadas, movidas só pelo lucro, procurem fazer o que lhes proporciona maior rendimento. Não se pode é aplaudir um poder público que não inibe práticas inimigas da qualidade de vida da população. Um bom visual urbano é requisito de bem-estar para quem vive em cidade. Digo-o do privilégio de morar no sítio histórico de Olinda, com paisagens formosas para ver de todo lado – arvoredos e o Atlântico a leste, Hotel 7 Colinas e Alto da Sé (sem o horror da praça de barracas faveladas, que não vejo de minha casa) a oeste, convento de São Francisco ao norte, praça do Carmo ao sul. Gostaria que desse privilégio desfrutassem todos aqueles que vivem na Região Metropolitana do Recife.
Artigo que li há pouco, do arquiteto Zezinho Santos na revista Class Casa, chama a atenção para a controvertida reforma da orla de Boa Viagem. Gastou-se um dinheirão ali para, por exemplo, substituir um piso bonito, de pedras portuguesas, por outro, de blocos de cimento. Diz-se que essa é uma tendência que já ocorre em outras cidades brasileiras. Mas se formos por Lisboa, como mostra Zezinho Santos, com lindas fotos das elaboradas calçadas lisboetas em seu artigo, estamos mergulhando aqui, cada vez mais, na mediocridade. Liliana Falangola, citando Pereira da Costa, reivindica para a abandonada Cruz do Patrão, na entrada do porto do Recife o resgate que engrandeceria a paisagem recifense a partir daquela “coluna de ordem dórica, em cujo capitel se levanta uma peanha faceada, encimada por uma cruz”. É urgente que se interrompa o processo de trágica decadência da paisagem do lugar em que vivemos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O TODO

Sofia Gasparotto
(aluna de Clóvis em aula prática)


Orgânico: alimentos, relações, ações e pensamentos.

O que mais poderia ter chamado a atenção na fazenda do Tao: a floresta de jaqueiras que nos acompanham até a casa? A fidelidade de lindos cachorros com estranhos? A receptividade das pessoas que moram no local? O clima harmonioso entre a casa e a floresta ao redor? A linda e calmante visão que se pode ter da pedra do Tao? A revigorante cachoeira entre musgos e bromélias? A compreensão e a generosidade dos contempladores deste santuário? Os momentos em que nos reunimos ao redor da mesa para, mesmo com poucas palavras, alimentarmos nosso corpo e também o nosso espírito? Poderia ficar comentando cada aspecto, cada sutileza do encontro que tivemos no fim de semana em que visitamos a fazenda do Tao, mas dentre esses momentos, um em especial me fez refletir mais sobre a sua importância, mas que, no entanto não percebemos no cotidiano o quanto ele é importante. Refiro-me, neste caso, aos momentos em que sentávamos à mesa para compartilhar as refeições e silenciosamente ou dividindo idéias e conhecimentos, alimentávamos a matéria e a essência. Não especificamente ao momento em si, mas a todo um processo que antecedeu estes encontros, o qual pode ser traduzido em uma maneira cuidadosa e natural com que os alimentos foram cultivados e preparados. Pudemos observar a diversidade da horta, cultivada sem a adição de substâncias externas e de uma forma com que aquele espaço fosse regulado a partir da cooperação entre os vegetais devido a sua diversificação. Interessante também pensarmos na auto-suficiência não só biológica daquele ecossistema que se regula a partir de uma teia de relações muito próxima, mas também no potencial de autonomia da fazenda como um todo em relação à alimentação das pessoas. E toda essa abundância só é possível porque há ali fatores essenciais para que a germinação das sementes proporcione “frutos” tão saborosos: um solo rico e fértil, um ar puro e água limpa e em abundância. Adiciona-se também o cuidado com que as pessoas depositam ao cuidar dos cultivos, seja aguando ou impedindo da forma mais orgânica possível que plantas daninhas e patógenos invadam aquele espaço.

Com relação à horta também gostei muito de saber, e ao acaso conhecer, uma senhora que estava trabalhando em outra horta na fazenda Tao, de forma totalmente orgânica também. A relação desta senhora com a horta também era muito especial, já que os alimentos que ela produzia eram utilizados para o seu consumo e para o comércio local, como forma de sua subsistência. Este estímulo e incentivo ao produtor local são de extrema importância, pois garante a subsistência dos moradores associando o conhecimento que é passado entre as gerações, impedindo que estes por falta de oportunidade migrem para as cidades, deixando-as super populosas e com condições precárias de vida; e impede que sejam consumidos e mobilizados recursos energéticos e transportes para que alimentos produzidos em outras localidades supram a demanda do município; e acima de tudo cria-se um vínculo de cordialidade e cooperação entre as pessoas que habitam áreas tão próximas e dependem de uma conservação conjunta para assegurar a manutenção deste local sagrado, provedor de alimentos, água, riqueza de espécies e harmonia.

Voltando a confraternização na mesa, vemos que esta é o resultado de um processo que envolve a natureza e os seres humanos numa relação que neste caso é eficiente sem deixar em nenhum momento de ser respeitosa. Este conceito também deve ser considerado no momento das refeições, levando em consideração a procedência dos alimentos e a maneira como interagiram com o ambiente. De igual importância, o consumo destes deveria conter estes mesmos princípios básicos: a diversidade, eficiência e proporções adequadas. A fazenda Tao agrega todos estes valores em suas etapas da manutenção da vida, seja para produzi-la ou sustentá-la. Vemos que não só os alimentos são orgânicos, mas as idéias, as ações, os pensamentos...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Recife ... Oh! Bela


Conhecer o Recife pelas águas do Capibaribe que se juntam ao Beberibe para formar o Oceano Atlântico, é mergulha da história, na poesia, na lama do manguezal e sair com um carangueijo na cabeça, um olho se vê os coelhos, no outro as torres gêmeas, não sei qual visão dói mais no peito, se o descaso com a natureza humana ou com o meio ambiente todo. Mas o que me deu esperanças foi o cheiro do melaço na entrada do porto em Santo Amaro das Salinas, foi o primeiro alumbramento de Manuel Bandeira, foi o Oh! bela de Capiba, foi o pescador, foi o mangue...
Vera

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Diario de Pernambuco, dom. 9.11.2008

A PIOR CRISE

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

Toda atividade humana incide irrecorrivelmente no ecossistema, quer pelo lado da extração de recursos (a natureza como fonte), quer pelo do lançamento de dejetos sob a forma de matéria ou energia degradada (o meio ambiente como lixeira). Percebido desse ângulo, é evidente que o processo econômico tem que respeitar limites (quer os do fornecimento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos da própria tecnologia e da ética). Daí, a noção do desenvolvimento sustentável: trata-se de promover a economia (e o bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico não possa assimilar. A. N. Whitehead (1861-1947), filósofo britânico, no seu livro A Função da Razão, indica que o ataque humano ao meio ambiente se desdobra em três etapas: viver, viver bem, e viver melhor. Viver é “obrigação” do ser vivo ao nascer. E o viver deve ser com bem-estar. Viver melhor requer a razão para que se decida qual a fórmula de progresso que convém. É um desafio que só os humanos contemplam. Lamentavelmente, o reducionismo de nossa visão de mundo tem feito com que essa busca haja se convertido na idéia exclusiva do crescimento econômico: aumento do PIB a qualquer custo.
Sucede que a lei básica da natureza é de degenerescência. Diz Whitehead: “Com insidiosa inevitabilidade, ocorre a degradação da energia. As fontes de atividade decaem gradativamente. A sua própria substância se desgasta”. Compete à razão dirigir o ataque ao meio ambiente para “promover a arte da vida”. Não é o que se faz. Ataca-se o meio ambiente sem nenhum cuidado quanto aos custos ambientais (e humanos) que acompanham tal ataque. Sem uso da razão. Daí acumulam-se problemas de todo lado, desde a poluição, à desertificação, à destruição da biodiversidade, ao aquecimento global. São círculos viciosos que se formam com as características de fenômenos de retro-alimentação positiva, ou seja, do tipo bola de neve ou bolhas que inflam até estourar. Esse fato suscita a questão de limites ecológicos à expansão humana. É óbvio que o limite de assimilação de CO2 pela atmosfera foi ultrapassado, com a conseqüente intensificação do efeito estufa de origem antrópica. A realidade que transparece é de desequilíbrios ecológicos que tornarão insustentável a presença humana no planeta. Em outras palavras, estamos numa rota suicida. O desfecho disso foi prognosticado por um sóbrio Celso Furtado em seu livro O Mito do Desenvolvimento Econômico, de 1974: nosso estilo de vida tem um custo de tal ordem, em termos de depredação do mundo físico, que qualquer tentativa de generalizá-lo levará inexoravelmente ao colapso da civilização.
Se hoje enfrentamos uma crise econômica gravíssima, fruto da insanidade do sistema financeiro globalizado, a insuportável carga da economia sobre o ecossistema levará a uma crise ainda pior. Problemas financeiros têm caráter conjuntural. Constituem pulsações que param em algum momento, como resposta a correções de rumo. Já os problemas ecológicos são de ordem bem mais complexa – com raízes profundas. É possível debelar distúrbios financeiros e econômicos com medidas monetárias e fiscais – talvez muito penosas. Já uma intervenção para corrigir perturbações ecológicas pode ser totalmente inócua, se a situação tiver ultrapassado aquilo que os ecólogos chamam de “thresholds” (umbrais). No dia 29.10.2008, o jornal britânico Guardian disse em editorial sobre a mudança climática: “Alguns cientistas estão perto do pânico”. É esse o entendimento dos que vêem na crise ambiental um perigo de crise pior

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Artigo publicado

Diario de Pernambuco, 26.10.2008

UMA DESGRAÇA ECONÔMICA SE AVIZINHA
Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

O mundo parece estar à beira de grave crise econômica, talvez mesmo de uma desgraça. Da última vez em que um abalo semelhante ao atual aconteceu (1929), seguiu-se a década da Grande Depressão. Naquela ocasião, a economia virtual do dinheiro era menor do que a economia real de produção, renda e consumo. Antes do tumulto atual, havia uma circulação diária nos mercados financeiros mundiais da ordem de 2 trilhões de dólares, enquanto as centrais econômicas globais geravam um PIB de “apenas” 50 bilhões de dólares – 13 vezes menor do que o giro financeiro. Era óbvia a disparidade da economia de papel sobre a economia real. Ela não tinha onde se sustentar. Escrevi sobre isso aqui no Diário no dia 27 de setembro de 1998 (meu artigo se intitulava “O Papel do Dinheiro”). Deu no que deu. O modelo neoliberal, em que tanto o próprio governo do Presidente Lula da Silva confiou, ruiu de forma estrondosa. Sobre isso, sentenciou o famoso economista da Universidade de Columbia (EUA) Jeffrey Sachs no jornal britânico The Guardian de 21 do corrente: “O sistema financeiro internacional quebrou”. E com ele, o inteiro sistema capitalista anglo-saxônico. Ficou sem chão o evangelho neoliberal que pregava que o mercado sabia de tudo.
A sensação de perplexidade é generalizada. Ninguém sabe o que fazer. Sabe-se, sim, como salienta o mega-investidor George Soros, que o modelo imperante de globalização e desregulamentação estourou, causando a crise atual. Soros foi um dos primeiros atores das finanças mundiais a alertar quanto aos perigos da “securitização” de quase tudo no mercado do dinheiro – de hipotecas a contas de cartões de crédito. Outro grande nome das finanças, Warren Buffett – um dos homens mais ricos do planeta –, tentou mostrar o perigo dos misteriosos instrumentos financeiros chamados de “derivativos”, classificando-os como “armas financeiras de destruição em massa”. Contrariamente, o então presidente do banco central americano (o Fed), Alan Greenspan, muito admirado pelos economistas do mundo inteiro, insistia que não, os derivativos desempenhavam importante papel diluindo os riscos das jogadas financeiras. A agência de supervisão do mercado de papéis dos EUA, conhecida pela sigla SEC, desorientada no seu mister, inventou modelos incrivelmente complexos para acompanhar o que acontecia. Esses modelos ficaram conhecidos como as “Simulações de Monte Carlo”. Note-se: Monte Carlo, não por acaso, é o nome do famoso cassino de Mônaco. Pelas regras suicidas da SEC, removeu-se o teto de 12 para 1 nas alavancagens dos bancos (relação entre dinheiro aplicado e dinheiro captado). Os bancos passaram a poder fazer as apostas que quisessem!
Nesse clima de permissividade, de extremado liberalismo (neo e antigo) tão do gosto de políticos barulhentos que agora estão caladinhos como aves na muda, o famoso mercado fez o que quis. Seu combustível era a ganância insaciável, alimentada pelo credo que congrega todas as direitas e todas as esquerdas em um pensamento único: a veneração do crescimento econômico (como se crescer fosse sempre possível num mundo finito). Jeffrey Sachs, no artigo mencionado, diz: reformas “serão necessárias para que se alcance crescimento sustentado”. Em abril deste ano, o analista Paul Sankey, do Deustcher Bank, falava na revista Newsweek: “O mercado quer crescimento, crescimento, crescimento”. Todos se maravilham diante de quase 30 anos de crescimento chinês a 10% ao ano. O Brasil se baba diante do seu PAC. Ao mesmo tempo, os ensinamentos da história econômica registram que após uma crise financeira séria, sucede-se um declínio profundo da produção, da renda, do emprego. Tudo porque o dinheiro some. Esse aperto está agora às portas e nos golpeará a todos. Desgraça neoliberal!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Professor Clóvis e seus alunos na Fazenda do TAO

Aula e Natureza





Clóvis leva seus alunos de Ciências Ambientais da UFPE para aula prática na Fazenda do Tao,Brejo de Altitude, zona rural de Gravatá PE.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Clóvis e seus alunos

Artigo de Clóvis no Diario de Pernambuco, Dom, 12/10/2008

A ELEIÇÃO MUNICIPAL

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social


Não soube a quem dar meu voto para prefeito de Olinda, a cidade onde moro. Não saberia também se residisse no Recife. A tristeza é por isso não se dever a uma hesitação causada por estar diante de plataformas que se impusessem pela excelência. Ao contrário, os candidatos se repetiam. Preferiam melhorar sua maquiagem pessoal nas aparições do que qualquer outra coisa. E não traziam propostas convincentes para fazer a vida melhor. No Recife, para mim, a única boa novidade da campanha passada foram as “bicicleatas” de Mendonça Filho. Pena que ele só tenha recorrido a esse procedimento aos domingos. Não poderia, na verdade, fazê-lo nos dias de semana, como o sabem muito bem aqueles mais ousados que enfrentam o trânsito para se mover sobre duas rodas. No dia 20 de maio de 2004, eu fazia isso em Olinda quando um ônibus me derrubou numa via pública larga. Fiquei com escoriações e um braço deslocado. Mas, graças a Deus, foi só. Desde então não pedalei mais. Quando vejo a multidão de heróis que pedalam (às vezes, um casal e uma criança numa bicicleta feita para uma só pessoa), sinto a dor de viver em uma sociedade com tantas formas de exclusão a exemplo dessa. Por que nenhum prefeito implantou ciclovias em Olinda, no Recife, em Pernambuco? Simplesmente, isso não é prioritário para os edis. No Recife, permitiu-se, entretanto, a desastrosa construção de enormes prédios no Cais de Santa Rita em benefício de poucos privilegiados. Nada similar se reserva para conforto dos que sofrem os horrores de uma cidade tão desigual como a capital pernambucana.
A prefeita de Olinda, Luciana Santos, figura simpática em quem votei com entusiasmo duas vezes, chega sem brilho ao fim de seu mandato. Realizou algumas obras, é certo, mas perdeu-se no que toca a um cuidado mais consciente quanto ao patrimônio histórico da cidade. Disso é exemplo o terrível desastre da inútil reforma no adro do convento franciscano, um local que sempre foi muito admirado pelos turistas. Seu candidato a sucessor, o deputado Renildo Calheiros, eleito sem problemas, sequer é um morador de raízes sólidas na cidade. E não parece possuir as credenciais para servir de guardião dos valores olindenses. O livreto de sua campanha começava com um slogan vazio: “Olinda precisa crescer mais”. Deveras, é só nisso o que pensavam todos os candidatos a prefeito na Região Metropolitana de Pernambuco, e no Brasil inteiro (com mínimas exceções, caso de Fernando Gabeira, no Rio). Há uma fé religiosa, um credo irracional que faz do tema do crescimento a solução para todos os problemas. Crescer sempre conduz, no plano socioeconômico, a bolhas – como essa que está explodindo nos mercados financeiros mundiais. Crescimento sem fim, na natureza, é um fenômeno associado a processos doentios. Por que a sociedade e a economia poderiam escapar disso?
Uma coisa que me leva a escolher um candidato, mesmo que ele não reflita a visão de mundo que me orienta, é uma destemida defesa de valores supremos: liberdade, honestidade, comportamento republicano, retidão no uso do bem público, justiça, igualdade, respeito à dádiva gratuita da natureza. Neste ponto, a meu ver, nenhum candidato superava qualquer outro para prefeito, fosse em Olinda ou no Recife. Por isso, não escolhi nenhum. Mas votei, para vereador: em Marcelo Santa Cruz. Votaria ainda em Fernando Andrade, em Paulo Valença. No Recife, poderia escolher: Renê Patriota, Priscila Krause, Luciano Siqueira, Durval Lins. Sei que há outros nomes a destacar. Cito alguns para indicar que alimento esperanças. Infelizmente, aos políticos no Brasil escapa a defesa intransigente da ética. As tristes histórias recentes de uso irregular da máquina governamental provam isso e só fazem entristecer.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Venda de Produtos Alimentícios Orgânicos

Fazenda do Tao, brejo de altitute no município deGravatá-PE, onde há 32 anos planta verduras e frutas orgânicas

Texto de Clóvis Cavalcanti para o http://www.comadrefulozinha.com.br/

A venda de produtos alimentícios orgânicos é uma das iniciativas dos tempos atuais que mais merece aplausos de quem os consome. Na verdade, não se trata de invento novo. A agricultura orgânica – ou agroecológica, ou biodinâmica, ou natural, ou ecológica – existe há milênios, desde que a espécie humana aprendeu a domesticar plantas e animais para comer.Essa agricultura química, cheia de agrotóxicos (o nome diz bem do que se trata: tóxicos), que se encontra por aí, é que é uma invenção. Foi concebida com a finalidade precípua de proporcionar lucros (para quem vive dela, claro). Ninguém pensa na saúde do consumidor. Que se danem os que comem cianeto, ou chumbo, ou nitratos (junto com milho, alface, cebola, galinha, queijo, etc.), seja o que for. Que se dane a natureza,simplificada perigosamente ao extremo para dar lugar a monoculturas. É sabido como o uso de produtos químicos perturba seriamente o equilíbrio do solo, com graves efeitos sobre a saúde humana. Efeitos esses que são devidos ao fato de que desequilíbrios na dinâmica dos solos afetam os vegetais que neles se desenvolvem, alcançando por essa via os consumidores de alimentos – bichos e seres humanos. Não se mexe impunemente na natureza, sujeita que é a leis rigorosas e implacáveis. Deixar, pois, como fazem os produtores orgânicos, que os princípios da biologia comandem a colheita de alimentos saudáveis, isentos de interferências danosas, permite que nós, consumidores, cuidemos de fortalecer nossa saúde. Pois, como diziam os antigos, se morre pela boca. O compromisso do negócio que Comadre Fulozinha representa é com essa forma milenar de contribuir para que tenhamos mais bem-estar através de mais saúde, um benefício da comida orgânica.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Foto: Clóvis Cavalcanti em ambiente de trabalho

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Auto apresentação

Clóvis Cavalcanti

Nascido na Usina Frei Caneca, município de Maraial, Pernambuco, em 8.12.1940. Criou-se entre canaviais. O pai era contador da usina e a mãe, agente do Correio.
Não teve curso primário regular. Aprendeu a ler em casa. Freqüentou escolas públicas e fez o último ano com padres salesianos de uma escola interna em Frei Caneca, onde foi aluno externo. Fez o curso secundário (1952-1959) no Colégio Nova Friburgo (uma escola leiga da Fundação Getúlio Vargas, em Nova Friburgo, Estado do Rio), como interno.


Estudou ciências econômicas na Universidade do Recife (1960-1963). Teve como paraninfo Manoel Correia de Andrade e como patrono da turma Caio Prado Júnior. Estagiou na Sudene convivendo com Celso Furtado, Chico de Oliveira, Luís de Vasconcelos e outros.

Pós-graduação no Centro de Aperfeiçoamento de Economistas da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, janeiro-agosto de 1964. Aí estudou com Mário Simonsen e assistiu a palestras de Nicholas Georgescu-Roegen, pai da economia ecológica.


Mestrado de economia na Universidade de Yale, Estados Unidos (de setembro de 1964 a junho de 1965). Conviveu aí com James Tobin, Prêmio Nobel de Economia de 1988, e Celso Furtado, que estava exilado como professor visitante em Yale. Foi levado para Yale pelo prof. Werner Baer. Contra a vontade deste, decidiu não fazer doutorado em Yale por considerar que o melhor doutorado seria o da vivência com a realidade do Brasil e por discordar do conteúdo da teoria econômica ensinada nos Estados Unidos. Trabalhou em seguida no Comitê dos Nove, na União Panamericana (Organização dos Estados Americanos – OEA), entre junho e setembro de 1965, levado pelo prof. Carlos Díaz-Alejandro. Conviveu aí com Hollis Chenery e Rômulo de Almeida.

Entrou na Sudene, convidado pelo superintendente-adjunto, seu ex-professor, Fernando Mota, para integrar a equipe do Grupo do Vale do Jaguaribe, trabalhando com franceses (de set. 1965 a abril de 1967). Ingressou também na Universidade do Recife, depois Federal de Pernambuco (UFPE), e na Universidade Católica de Pernambuco em setembro de 1965. Em outubro de 1967, entrou no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS) e na Faculdade de Ciências de Administração da Fesp (Fundação do Ensino Superior de Pernambuco, depois Universidade de Pernambuco – UPE). Em outubro de 1970, renunciou a todos os empregos para ficar em dedicação exclusiva na UFPE, onde havia participado da fundação do Pimes (mestrado de economia). Em janeiro de 1973, passou a trabalhar apenas no IJNPS, como pesquisador e diretor do Departamento de Economia, voltando a conviver com Gilberto Freyre. Deu aulas na UFPE em 1974-1975, havendo organizado na graduação de economia, no segundo semestre de 1975, o primeiro curso regular de economia do meio ambiente. Depois disso, dedicou-se somente à pesquisa no IJNPS, que virou Fundação Joaquim Nabuco em junho de 1980. Passou a dirigir o Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação, cargo em que ficou até fevereiro de 2003 (com breve interregno entre março e julho de 1986).